Eliana Calmon foi a magistrada que mais deu o que falar nos
últimos anos com suas declarações polêmicas, como a dos bandidos de toga, numa
alusão a juízes desonestos e com desvio de conduta até ao ponto de cometerem
crimes. Ela só foi ultrapassada pelo mais famoso Joaquim brasileiro.
Seu paralelo ao julgamento do mensalão se dá apenas devido a
sua indicação para o cargo ter sido semelhante à do ministro Luiz Fux. Eles se
tornaram ministros graças à gente da pesada, que dispensam apresentação. Ela,
apadrinhada por Edison Lobão, Renan Calheiros, Antonio Carlos Magalhães e... Jader
Barbalho. Luiz Fux, por nada mais e nada
menos do que o mensaleiro José Dirceu, um dos condenados por Ele. Há o
agravante de ter sido indicado quando seu pupilo já era réu no processo do
mensalão.
Foram eles quem declararam seus padrinhos. Essas afirmativas
dão a entender que não existe outro caminho para se alcançar as indicações a
não ser por esse viés político, que, se for verdadeiro, os demais membros da
Suprema Corte deveriam esclarecer por quem foram agraciados. Estariam
dispensados Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski.
Mesmo que não se aplique ao caso concreto, não é sem sentido
que alguns condenados e seus simpatizantes afirmam tratar-se de um julgamento
político. Mas a questão é o caminho
tortuoso para se chegar a tão relevante posto. Sendo assim, supõe-se que várias
pessoas, com a mesma qualificação técnica de Luiz Fux e Rose Weber estão fora
dessas cadeiras ou por falta de padrinhos, mesmo que do nível desses, ou por
que não trilharam a cartilha. Na Veja
desta semana, nº 2300, a presidente do TRF4, desembargadora Marga Inge Barth
Tessler, afirma que é usual e normal que os juízes sem ligações políticas façam
seus currículos chegarem às altas sociedades federais. Palavra de presidente;
bastante equivocada. Não basta serem autoridades federais, é preciso que sejam
dignas. E não se imagina esses dois magistrados de braços dados com seus
padrinhos.
Nossa sociedade é mesmo tolerante com descaminhos. Algumas
afirmativas de domínio público falam por si. “Se eu tivesse no lugar dele, talvez fizesse a
mesma coisa”. Essa frase traz uma dúvida apenas para aliviar e serve para
alguém que não devolve o que encontra ou faz referência a alguma falcatrua de
um político corrupto. Sem dúvida nenhuma são os tais meios a justificar os
fins, tese ligada umbilicalmente à gestão “rouba, mas faz” de Paulo Maluf.
Pelo desempenho de ambos, ainda que no caso concreto se
trate de duas figuras acima de suspeitas, as reações contrárias deveriam ser
imediatas. Não houve e os comentários na imprensa soaram amistosos, românticos.
Luiz Fux alegou que fora apresentada ao Zé Dirceu. Assim, com a inocência de
uma criança. Já Eliana Calmon disse que, sem esse tipo de ajuda, não se chega
lá.
Há necessidade de se reiterar que o brasileiro tem idolatria
por uma deferência gratuita, mais pelo cargo, do que pelo desempenho ou correção
do agente. O maior símbolo foram os gritos mortais de “ai, doutor!”, proferidos
por Mário José Josino a cada borrachada do PM Rambo, na Favela Naval, em
Diadema, São Paulo. Acrescente-se que até
o começo de 2012 a família ainda não tinha sido indenizada pelo governo do
Estado de São Paulo.
Talvez os ministros possam ser aliviados pela frase de Graciliano
Ramos, em “São Bernardo”, ao dizer que fizera coisas boas que lhe trouxeram prejuízo;
fizera coisas ruins que lhe deram lucro.
No Facebook, a rede da moda, circula sempre uma frase sobre qual o mundo
que a gente pretende deixar aos nossos filhos, rebatida com a preocupação de
saber que filhos a gente deixa para o mundo. Caberia a pergunta a ambos se eles
recomendariam o mesmo caminho a seus filhos. A resposta seria um indicativo
quanto à inocência ou à correção do caminho escolhido pelos brilhantes
magistrados. Esse pode ser o único caminho desse jogo, mas só joga quem é do
jogo.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP | Bacharel em direito
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP | Bacharel em direito
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