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GRANDE HOTEL CALDAS DE CIPÓ: A cidade comemora(?) seus 60 anos

Autor: Edson Fernandes* 
Há sessenta anos, o Grande Hotel de Cipó foi solenemente inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas. Às vésperas da rememoração desta data histórica para a cidade de Cipó e para o Estado da Bahia, a Bahiatursa anuncia que vai leiloar oito hotéis construídos há mais de duas décadas no estado, dentre eles o de Cipó - edifício praticamente abandonado, mas em boas condições estruturais - que integra o núcleo urbano central da cidade - tombado provisoriamente pelo IPAC em março de 2008.
O hotel de Cipó, inicialmente chamado de Hotel-Balneário, foi projetado e construído pela norueguesa Christiani & Nielsen, a mesma responsável pela construção de edifícios importantes da arquitetura moderna na Bahia como o Elevador Lacerda (1929) e o Armazém-sede do Instituto do Cacau da Bahia (1933-36). Nas palavras do Eng. Civil Helenauro Soares Sampaio - prefeito da Estância Hidromineral de Cipó à época – tratava-se de “um moderníssimo hotel de luxo, dotado de condições técnicas sem precedentes no País apenas comparáveis ao que existe de melhor no gênero nas estâncias Européias do Mediterrâneo”. Um feito excepcional, tendo em vista que a Capital do Estado só teria um hotel desse porte com a construção do Hotel da Bahia no início dos anos 50.
A inauguração do Grande Hotel de Cipó, no dia de São João de 1952, foi um evento que mobilizou toda a região, reunindo cerca de 10.000 pessoas na pequena cidade, que ficou completamente lotada - tendo até que importar camas das cidades vizinhas para os visitantes. Entre as autoridades que acompanhavam o Presidente Getúlio Vargas estavam ministros, governadores de vários estados nordestinos, secretários de estado, prefeitos da região e da capital, parlamentares e autoridades militares. O senador Assis Chateaubriand e o escritor Guimarães Rosa lideraram o grupo dos “encourados” - uma comitiva com centenas de vaqueiros paramentados - que escoltou o automóvel presidencial do campo de aviação até o hotel, onde ficou hospedado.
Durante os anos que se seguiram à inauguração, o hotel foi arrendado por uma empresa privada e funcionou recebendo turistas baianos e de outros estados da federação, atraídos pelo “pano verde”, por suas instalações luxuosas e pela fama das águas termais de Cipó. Na década de 50, o luxo era tanto que o hotel dispunha de táxi aéreo para fazer o transporte de hóspedes que partiam da capital baiana. Naquele período, a Estância Hidromineral ainda gozava do prestígio alcançado pela iniciativa do médico Genésio Salles, potencializada pela intervenção do Estado, patrocinador da construção da cidade.
Entretanto, desde o final dos anos 60 e até o início dos anos 80, o hotel permaneceu fechado por longos anos, quando teve parte de suas instalações saqueadas. É possível, ainda hoje, encontrarmos em currais da região a louça das banheiras das suítes servindo de cocho para o gado bovino.
Em 1982, numa tentativa da Bahiatursa de promover o turismo no interior do Estado, o Grande Hotel foi reformado, juntamente com outros hotéis que também fazem parte dos novos planos de venda da empresa. Mas a criação de leitos com alguma qualidade não foi suficiente para garantir o afluxo de turistas, levando o hotel – àquela altura classificado com três estrelas e administrado pela Rede Tropical de Hotéis - a ser fechado novamente em 1989. Neste período de reflorescimento precário, a cidade obteve certa divulgação e atraiu especuladores que - aproveitando-se da inexistência de planejamento urbano e de controle do uso do solo local - lotearam propriedades rurais na periferia, vendendo a imagem da cidade como Paraíso das Águas Termais.
Há décadas, a população cipoense espera por uma destinação digna para o hotel abandonado, que possui cerca de 11.000m2 de área construída, distribuídos em nove pavimentos, na esperança de poder usufruir, ainda que indiretamente, de seus resultados. É improvável que este hotel possa se sustentar economicamente sem que a cidade venha a fazer parte de um planejamento turístico regional efetivo, com uma política distinta da que vem sendo praticada pelas instituições competentes. No passado, já se tentou vendê-lo, mas não houve quem por ele se interessasse.
Tombada pelo IPAC; em processo de instrução de tombamento nacional pelo IPHAN e incluída no PAC-Cidades Históricas pela importância de seu conjunto urbano Art Déco e Neocolonial, cuja construção remonta ao período de maior urbanização por que passou o país - a chamada Era Vargas, Cipó teve notícias nos últimos anos da criação de um hotel-escola do SENAC e de um Campus da Universidade do Estado da Bahia nas instalações do Grande Hotel; intenções essas que não se efetivaram.
Espera-se que, com tantas motivações, possa ser realizado um plano de desenvolvimento urbano a ser efetivamente implantado, capaz de garantir a melhoria das condições de vida local amparada pelo valor reconhecido de seu patrimônio histórico para a Bahia, quiçá para o Brasil. E que a possível reativação do Grande Hotel possa ainda cumprir uma função importante para o bem da população nativa, que pode ser a de motivar a ordenação do crescimento da cidade e estimular a preservação de todo o seu patrimônio. 

*Edson Fernandes D’Oliveira Santos Neto (filho da Prof. Ivone Victor) é Arquiteto e Urbanista e Professor da Faculdade de Arquitetura da UFBA. É autor de artigos apresentados em seminários nacionais sobre o conjunto arquitetônico e urbanístico de Cipó e da dissertação de mestrado “Estância Hidromineral de Cipó: A construção de uma cidade balneária no sertão da Bahia”, defendida na UFBA em 2009.

Enviado pelo Leitor Edson (fernandes.edson@gmail.com) / Compartilhar:

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3 Comentários

  1. O Grand Hotel, está localizado na cidade de Cipó. Foi durante muitas décadas um centro de atração turística da inauguração do Grande Hotel Caldas magnífico Vinha de.


    Portobello Resort

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  2. Aprecio e respeito a belíssima apresentação feita pelo Sr.Edson Fernandes sobre o Hotel e águas termais da região, mas pediria que explicasse o que aconteceu com ele até seu encerramento no final da década de 60. Acontece que em 25/02/1960, na parte da manhã, passei de motocicleta por Cipó, tomei banho na piscina com água quente proveniente dos gêigeres e até notei haver em um dos lados da piscina várias casinholas com banheiros para pessoas ficarem mais à vontade. E tendo na oportunidade reparado o Hotel fechado perguntei ao pessoal do local qual a razão, responderam que ele só funcionava na época de veraneio. Será que ele funcionava mesmo, ou já estava definitivamente fechado? Agradecerei o esclarecimento.

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  3. Tenho orgulho em desfilar meus olhos, meus passos, meus sonhos e o meu viver nessa cidade que me recebera de braços abertos.
    Hoje, exercendo a função de Diretor de Cultura, espero contribuir e retribuir o apoio e o carinho recebido.

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